Matilde, a colecionadora
Matilde era uma menina de doze anos. Era alta, tinha pele
morena e cabelo castanho! Ela era conhecida por toda a escola. Quando falavam
em Matilde, a colecionadora, toda a gente sabia de quem se tratava, não pela
sua aparência, mas sim pelo passa-tempo. Ela colecionava coisas, todo o tipo de
coisas, desde as mais pequenas e insignificantes, como as aparas dos lápis, até
às maiores e mais valiosas, como pedras preciosas. Matilde acreditava que tudo
poderia ter uma “segunda vida”.
A sua casa era uma confusão, pois ela não era a única
colecionadora. Matilde herdara esse gosto da sua família!
Certo dia, enquanto almoçava na cantina da escola, uma amiga
perguntou-lhe qual era de todas a sua coleção favorita. Matilde começou a
pensar, a pensar… e chegou à conclusão de que não sabia qual era de todas a sua
favorita!
Mais tarde, quando ia a caminho de casa, voltou a relembrar
a pergunta e, novamente, começou a rever as hipóteses e a pensar:
- Será a minha
coleção de garrafas ou será a minha coleção de peluches? Mas também poderá ser
a de livros antigos.
Com tanta indecisão, acabou por suspirar. Então a mãe, dando
conta do ar pensativo da Matilde, perguntou:
- Está tudo bem filha? Noto-te muito pensativa.
- Não, mãe. Hoje, na escola, uma amiga perguntou-me qual era
a minha coleção favorita e eu não soube responder. Há tantas opções! Como
haverei eu de escolher apenas uma? Tu tens alguma favorita? - perguntou curiosa
à mãe.
- Sim… bem…há muito tempo atrás, eu colecionava búzios. Eu e
a tua avó íamos à praia e eu apanhava todos os que conseguia! - relembrava saudosamente
a mãe.
- Mas, como é que sabes que essa é a tua coleção favorita?
- Sabendo! Foi a minha primeira coleção e, como compartilhei
esta memória com a minha mãe, sinto que esta é a minha favorita!
Com estas palavras Matilde voltou a pensar e não falou mais
no assunto, ficando retida nos seus pensamentos.
No dia seguinte, Matilde acordou com uma estranha sensação.
Ainda não sabia qual era a sua coleção favorita. Ao pequeno almoço, enquanto
todos comiam, a menina voltou a perguntar:
- Pai, qual é a tua coleção favorita?
- Essa é fácil. A minha coleção de borboletas! - respondeu o
pai de imediato.
- Mas, não é possível colecionar borboletas, pai! - exclamou
o irmão mais novo de Matilde, o Luís.
- É sim, Luís. Eu apanhava-as e secava-as, depois
guardava-as numa mica e adicionava ao meu álbum. Acho que ainda o tenho aqui.
- E tu Luís, qual é a tua coleção favorita? - voltou a
interrogar a menina
- Ah! Sem dúvida a minha coleção de carros! Eles andam tão rápido
que chegam até a assustar-me!
- Chega deste assunto! - disse a mãe - Vai para a escola,
Matilde, senão vais -te atrasar.
A Matilde respondeu:
- Vou a pé. Preciso espairecer as ideias.
E de seguida,
levantou-se e saiu.
Enquanto caminhava ia pensando e analisando as suas
coleções.
- Pode ser que seja a minha coleção de enfeites de Natal, ou
será que é a de árvores? – perguntou-se a si mesma - Desisto, não sei qual é a
minha coleção favorita e acho que nunca hei-de saber!
De repente, apercebeu-se
de que já havia encontrado a sua favorita! Voltou a correr para casa e entrou
aos berros:
- Pai, mãe, Luís já sei qual é a minha coleção favorita! -
disse ainda ofegante com a corrida que dera.
- Então qual é? - perguntaram todos em uníssono.
- Nenhuma! - exclamou deixando todos espantados - Gosto de
todas, não tenho nenhuma favorita nem nenhuma de que não goste!
- Ainda bem que descobriste, filha! - disse a mãe - Mas,
agora tens de ir rápido para a escola pois já estás atrasada!
E esta é a história da menina sem coleção favorita. Continua
a não ter, mas descobriu que não era necessário escolher uma para ser feliz!
Inês Sousa
7ºF